Como (Não) Tratar um Psicopata Imortal: O Caso Jason Voorhees

Dossiê Voorhees: Notas do Dr. Richard M. Graves
Centro de Pesquisa Psiquiátrica Blackwood
Data: 12 de outubro de 1986

Caso: Jason Voorhees


Entrada 1 – O Paciente Chegou

Eles o trouxeram à meia-noite. O cheiro de terra úmida ainda impregnava suas roupas esfarrapadas, como se ele tivesse saído de um túmulo. Os guardas estavam visivelmente abalados, trocando olhares nervosos, suando frio. “Segurem bem as correias”, um deles murmurou, como se contivesse uma prece.

Jason Voorhees. O fantasma de Crystal Lake. O nome por si só já era suficiente para provocar arrepios até no mais cético dos cientistas. Lendas urbanas, relatos desconexos, vítimas empilhadas ao longo dos anos… Mas agora ele estava aqui, deitado na maca reforçada, uma aberração de carne e fúria dormente.

Seus olhos – ou melhor, o único visível sob a máscara de hockey desgastada – não piscavam. Apenas um buraco escuro, um abismo sem alma.


Jason Voorhees com máscara de hóquei internado

Entrada 4 – A Carne que Não Morre

Fizemos os primeiros exames médicos hoje. Meu Deus…

A pele é áspera, repleta de cicatrizes que contam histórias de violência extrema. Cortes profundos, fraturas que deveriam ter sido fatais, tecido rasgado e regenerado de maneira anormal. Como um cadáver que se recusa a apodrecer.

Os raios-X são desconcertantes: há sinais de ossos quebrados e reconstituídos várias vezes, como se seu corpo estivesse em um eterno processo de reconstrução. As juntas são rígidas, como se algo as tivesse soldado artificialmente. Mas o mais estranho? Seu coração – ele bate, mas de forma errática, como um motor velho que só liga quando quer.

Fizemos um teste de dor – apenas por protocolo, pois duvido que ele sinta algo além de ódio. Nenhuma reação. Nem um único tremor quando inserimos a agulha diretamente sob sua unha. Apenas um silêncio absoluto e sufocante.


Entrada 9 – A Primeira Tentativa de Fuga

A cela de contenção deveria ser segura. Deveria.

Os protocolos foram reforçados. Correntes de titânio, portas duplas, uma equipe armada até os dentes. Mesmo assim, Jason arrebentou os suportes de aço como se fossem feitos de papelão. O alarme ecoou pelos corredores. Ouvi os gritos.

Encontrei o guarda Thompson em um canto da sala, seu corpo torcido em um ângulo impossível, como um boneco quebrado. Sangue escorria pelas paredes. Jason estava de pé no centro da carnificina, com a cabeça ligeiramente inclinada, como se calculasse seu próximo movimento.

Foram necessários oito dardos tranquilizantes para derrubá-lo. OITO. Um homem normal já estaria morto com a metade disso. Mas Jason apenas balançou um pouco antes de cair de joelhos.

Antes de apagá-lo, juro que vi algo mudar em seu olho. Um lampejo de… nostalgia? Como se, por um segundo, ele estivesse longe dali. Longe de nós.

Jason Voorhees com máscara de hóquei pronto para matar todo mundo

Entrada 13 – O Nome que o Assombra

Testamos estímulos visuais hoje. Foi a primeira vez que Jason mostrou algo além de indiferença.

Colocamos uma série de imagens diante dele: cenas de florestas, rios, casas abandonadas… Nada.

Então veio a foto de Crystal Lake.

Seu punho se fechou lentamente, os músculos saltando sob a pele marcada. Sua respiração, antes imperceptível, tornou-se audível – um ruído áspero, cavernoso, como um animal despertando de um pesadelo.

O auge veio quando projetamos uma imagem de Pamela Voorhees.

Ele congelou. Por um instante, um momento impossível de fragilidade, Jason parecia… perdido. Como se estivesse esperando que ela saísse da tela, lhe desse ordens, acalentasse sua fúria insaciável.

Foi então que tudo desmoronou.

Ele avançou contra o vidro reforçado da sala de observação, rachando-o com um único golpe. As sirenes soaram. A equipe recuou, enquanto eu permanecia imóvel, observando aquele gigante enlouquecido esmagar tudo ao seu redor.

Ele não se importava com os choques elétricos. Não se importava com os guardas apontando rifles. Não se importava com nada.

Jason Voorhees só queria voltar para casa.


Entrada 21 – A Voz da Mãe

Tentamos um experimento arriscado.

Com base em suas reações à imagem de sua mãe, desenvolvemos uma simulação auditiva. Usamos gravações alteradas para reproduzir sua voz: “Jason, querido… Mamãe está aqui. Você foi um bom menino.”

O efeito foi imediato.

Seus músculos relaxaram, os dedos que antes pareciam garras se abriram lentamente. Por um segundo, um segundo precioso, Jason não era mais um monstro. Era um menino perdido, buscando uma sombra de afeto em meio à escuridão.

Então, ele começou a tremer. Seu corpo inteiro convulsionava de forma grotesca, como se estivesse sendo puxado em direções opostas. Quando a gravação terminou, Jason segurou a própria cabeça e soltou um grunhido que ecoou pela sala.

Era um som que eu nunca ouvira antes.

Um lamento.

E depois, silêncio.

Ele não reagiu quando os guardas o arrastaram de volta para a cela. Ele não resistiu. Apenas permaneceu ali, imóvel, olhando para o nada.

Seja lá o que fizemos, tocamos algo profundo. Algo perigoso.


Entrada Final – Conclusão?

Jason Voorhees não é humano no sentido convencional. Ele é uma força bruta, uma máquina de matar sem lógica discernível – mas não sem emoção.

Seus impulsos são primitivos, sim, mas há algo mais ali. Uma memória latente, um código quebrado dentro de sua mente fragmentada. Sua lealdade a sua mãe e a Crystal Lake é o único fio que o ancora à realidade.

Mas e se esse fio se romper?

O que acontece quando Jason percebe que sua mãe não está mais ali para guiá-lo? Quando não houver mais ordens? Quando não houver mais lar para onde voltar?

Eu temo que, quando esse dia chegar, nada será capaz de detê-lo.

Relatório encerrado.

Dr. Richard M. Graves
Psiquiatra Chefe – Blackwood Research Facility


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