Se O Exorcista (1973) fez o público vomitar e sair correndo do cinema, O Massacre da Serra Elétrica (1974) fez pior: deixou todo mundo desconfortável, sujo e com a sensação de que o próprio filme poderia saltar da tela e arrancar sua pele com um serrote enferrujado.
Tobe Hooper não criou apenas um filme de terror. Ele deu à luz (com fórceps de ferrugem) uma experiência visceral, um pesadelo filmado com câmera suada e gritos reais. Enquanto outros filmes seguiam roteiros bonitinhos, Massacre chutava tudo para o inferno: fotografia granulada, atuações cruas e um realismo doentio que fazia parecer um documentário do inferno.
A câmera de Hooper não acaricia, ela esmurra. Planos tremidos, closes claustrofóbicos e uma paleta de cores que parece frita pelo sol texano criam um visual sujo e sufocante. Não há trilha sonora convencional, só um som metálico e animalesco, como se Leatherface estivesse afinando sua serra para tocar um recital de carnificina.
Destaque para o uso da luz: o filme começa quente, quase queimando, e termina no crepúsculo de um pesadelo, com Sally ensanguentada, rindo em histeria enquanto Leatherface gira sua motosserra num balé de puro desespero. Arte? Definitivamente.
O horror de um país em ruínas
Massacre não é apenas sobre um bando de jovens azarados cruzando o caminho de uma família de canibais. É um retrato podre da América pós-Vietnã, um país à beira do colapso, onde o sonho americano foi devorado por lunáticos que perderam seus empregos com o fim dos matadouros.
A própria casa da família Sawyer é um museu da decadência: ossos, galinhas em gaiolas, móveis de pele humana – um interior tão desconfortável que você sente o cheiro de carne podre pela tela. Enquanto isso, os protagonistas, representantes da juventude hippie, são abatidos um por um, como gado num abatedouro metafórico. Subtexto? Talvez. Ou talvez seja só Hooper gritando: “Vocês não têm ideia do que vem aí!”
O horror que nunca morre
Se você acha que Massacre foi só mais um filme de terror, tente dormir depois de ver a cena do jantar. Aqueles 10 minutos de puro caos e gritaria são a definição de pesadelo cinematográfico. O filme influenciou tudo, de Halloween (1978) a Jogos Mortais (2004), e Leatherface se tornou um dos primeiros slasher icons, abrindo caminho para Jason, Freddy e Michael.
Mas, diferente dos vilões sobrenaturais que vieram depois, Leatherface assusta porque é humano. Um homem grande, forte, mentalmente instável, vestindo um rosto arrancado de outra pessoa. Ele não está matando por prazer, mas porque sua família precisa. O que, de certa forma, torna tudo ainda mais aterrorizante.
O grito que ecoa no tempo
Quase 50 anos depois, O Massacre da Serra Elétrica ainda é brutal, insano e sufocante. Ele não envelheceu, só ficou mais cruel com o tempo. Você pode assistir Sexta-Feira 13 e se divertir, pode ver Halloween e sentir tensão, mas Massacre? Massacre te faz sentir medo de existir.
E no final, enquanto Leatherface dança ao nascer do sol, sua serra gritando como um lamento demente, você percebe: o horror verdadeiro nunca morre. Ele só afia as lâminas e espera.
Caramba, Tobe Hooper criou um peso atmosférico naquele cascalho texano que funciona como personagem — a tensão vem mais da na escuridão do que dos gritos.
Massacre é um caos filho da recessão americana — família disfuncional, exploração, violência sobre violência. Lembra um pesadelo real escrito com lâmina quente.
Eu vi esse filme escondido quando era moleque e juro que até hoje o barulho da serra me dá gastrite nervosa. Leatherface virou meu bicho-papão oficial. Trauma? Sim. Arrependimento? Nenhum.